terça-feira, 30 de outubro de 2012

Um final de semana em Belém do Pará: minha primeira viagem à surpreendente região norte do Brasil

Lindas estruturas de ferro pintadas no Mercado de Carnes de Belém

A famosa castanha-do-pará em seu invólucro natural e pronta para consumo

Aves e lagartos convivendo harmoniosamente no Mangal das Garças

O curioso pássaro Guará, que tem uma coloração avermelhada intensa

Barcos navegando lentamente pela baía do Guajará

Deliciosa e exótica cerveja de trigo com taperebá da Amazon Beer

O “filhote” com camarões e arroz de jambu que desmancha na boca de tão macio

Interior do Theatro da Paz

Fiz questão de acrescentar o adjetivo “surpreendente” ao título desse post porque foi exatamente esse atributo que tornou a viagem à Belém uma das mais interessantes do ano. Belém é uma metrópole emoldurada pela floresta!!!! Foi a primeira vez que estive na região norte do Brasil e descobri uma fauna riquíssima, além da flora exuberante, das paisagens impressionantes e dos sabores especiais da culinária paraense, fortemente influenciada pela cultura indígena.

Achei tudo bem diferente do que costumo encontrar em outras regiões do Brasil e, como quem me acompanha há algum tempo já sabe, adoro me surpreender e experimentar coisas novas: quanto mais “exótico” e inusitado, maior é o meu interesse e curiosidade!!!!!

Fachadas cobertas com azulejos decorados, janelas altas e pequenas varandas podem ser encontradas em diversas partes da cidade

Chegamos por volta das 3 horas da manhã de sábado em Belém, depois que o voo atrasou uma hora. Fomos direto para o hotel dormir e acordamos algumas horas depois dispostos a conhecer o mercado Ver-O-Peso, passando pelo centro histórico (Cidade Velha). Mas antes disso, comemos uma suculenta tapioca recheada no café da manhã, que delícia!!!!!

Barcos de passeio ancourados no porto da baía de Guajará

Parte da fachada do mercado Ver-O-Peso

O “Veropa”, como é carinhosamente conhecido o maior mercado ao ar livre da América Latina, é uma feira tipicamente brasileira onde é possível encontrar tudo o que a gente procura e muito mais. A variedade de frutas, sementes, grãos, ervas medicinais, essências, peixes e artesanato em geral me deixou boquiaberta! O local foi candidato à uma das 7 Maravilhas do Brasil.

Segundo a blogueira Constance Escobar: “Num primeiro momento, o Ver-o-Peso pode causar espanto pela sujeira e pelo descuido. Mas mais espanto causa pelas maravilhas que há ali. Não é difícil entender o porquê de, apesar de toda a desordem, chefs brasileiros e estrangeiros se encantarem com aquele lugar. Há algo muito brasileiro naquilo tudo, no pior e no melhor sentido. Desde a bagunça que impera até a natureza de beleza acachapante que emoldura o mercado, passando pela arquitetura do entorno e pelo jeito da gente que trabalha ali. Se tenho razão não sei, mas não concebo Belém sem aquele mercado.”

Localizado na área da Cidade Velha às margens do Rio Guajará, o “Veropa” foi construído em 1625 no porto do Pirí, assim chamado na época. Seu nome tem origem nas Casas do Ver-o-Peso, projetadas no Brasil em 1614 com a finalidade de conferir o peso exato das mercadorias e cobrar os respectivos impostos para a coroa portuguesa.

Eu não tinha ideia da dificuldade de preparar a famosa castanha-do-pará para consumo. O menino da foto acima usava esse aparato para ajudar a retirar a casca super dura da fruta, mas a maioria do pessoal usa somente facas e leva um bom tempo para encher um saquinho.

Depois de presenciar essa cena, entendi porque a castanha-do-pará normalmente chega aos mercados com preços elevados. O processo de produção manual é bastante trabalhoso.

O mercado apresenta uma grande variedade de texturas e cores: imagino que seja um prato cheio para os fotógrafos profissionais! Eu, que não tenho nenhuma formação nem pretensão nessa área, fiquei encantada com tanta riqueza visual e saí clicando tudo o que me chamava a atenção, como a mistura de pimentas da foto acima.

O Ver-O-Peso é dividido em setores e estes são bem organizados e delimitados. Existe uma área dedicada somente às “poções mágicas”, vendidas em garrafinhas com nomes sugestivos como “Chama dinheiro”, “Pega e não larga”, “Hei de vencer”, “Abre o caminho da felicidade”, “Amansa corno”, “Viagra natural” e por aí vai.

A variedade de tipos de farinha de tapioca também me deixou impressionada: tem finíssima, fina, grossa, em pedaços etc.

A folha de maniva (foto acima) é utilizada na elaboração da maniçoba, uma espécie de feijoada paraense em que folhas de mandioca são usadas no lugar do feijão. Depois de lavada, a maniva é moída e cozida em água abundante por sete dias. Somente assim as folhas perdem o ácido cianídrico, um veneno que pode levar à morte por intoxicação. Os índios foram os primeiros a domesticarem a mandioca, aprendendo a eliminar o seu veneno mortal e a utilizá-la em diversas preparações. Com a chegada dos portugueses, a maniva cozida pelos índios foi incrementada com paio, pé de porco, linguiça, costelinha, lombinho etc., transformando-se na maniçoba. Na hora de comer, o ideal é acrescentar ao prato algumas gotas de pimenta-de-cheiro e farinha de mandioca torrada.

Gente, eu adorei a maniçoba!!!!! O aspecto pode assustar os desavisados, mas convenhamos que a feijoada de feijão preto também não é esteticamente muito atraente, né? O fato é que estamos acostumados a alguns pratos e muitas vezes oferecemos resistência quando precisamos sair da nossa zona de conforto para experimentar algo novo e de aparência exótica. Mais tarde nesse mesmo dia, tive a oportunidade de provar a feijoada paraense e simplesmente A-M-E-I! O sabor é muito parecido com o da feijoada tradicional, mas ao invés de grãos, a base do prato são folhas.

Além da famosa cerâmica marajoara, encontramos diversos objetos decorativos feitos de fibras, sementes e até escamas de peixes como cestos, jogos americanos, chapéus, bolsas, balaios, colares etc. A fibra de miriti é utilizada para confeccionar brinquedos que reproduzem barquinhos, bonecos e bichos da região como jacarés, pacas, cobras e onças. É um material bem levinho que se assemelha ao isopor.

Durante o passeio pelo Ver-O-Peso, encontramos a queridíssima Cath Vale (do blog UTENSÍLIOS), que sabe tudo sobre o mercado, as comidas típicas, o artesanato e as tradições de sua terra natal. Na foto à esquerda, vocês podem observá-la explicando ao Marcelo os efeitos do jambu. Foi uma delícia reencontrá-la em Belém depois de conhecê-la pessoalmente no Rio esse ano. Passamos a manhã muito bem acompanhados por uma super mulher que admiro e com quem descobri várias afinidades. Resumindo, a Cath é o máximo e espero ter muitas outras oportunidades de revê-la!!!! Na foto à direita, vocês podem ver um cacho de pupunha.

Para terminar o passeio, entramos no mercado de peixes e descobrimos que o pirarucu, que comeríamos mais tarde nesse mesmo dia, é gigantesco!!!! Trata-se de um dos maiores peixes de água doce do Brasil, podendo atingir até três metros e 200 Kg.

Do mercado de peixes, partimos para o mercado de carnes e eu fiquei apaixonada pela elegante estrutura de ferro que se tornou a marca registrada do local.

O conjunto arquitetônico foi importado da Escócia e é composto de quatro grandes pavilhões, um pequeno chalé e uma estrutura construída para suportar o reservatório de água, que se transformou, depois de desativada, em um mirante com escada em caracol.

Depois de passearmos bastante pelo “Veropa” e de descobrirmos um monte de curiosidades, resolvemos dar uma pausa para comer uma porção de camarões empanados com molho tártaro na barraca da Lúcia, indicada pela Cath.

Apesar de adorar bater perna e visitar lugares novos, fico feliz quando chega a hora da pausa para beliscar alguma coisa, tomar uma cervejinha e conversar sobre o que já vimos e o que ainda falta conhecer. Foi ótimo bater um longo papo com a Cath e saber das novidades!

Nos despedimos de nossa amiga e seguimos para a Praça Frei Caetano Brandão, onde visitamos a Casa das Onze Janelas e o Forte do Presépio, local onde a cidade de Belém foi fundada. A Catedral da Sé, infelizmente, estava fechada.

Entramos no Museu de Arte Sacra/Igreja e Colégio de Santo Alexandre, uma bela construção que ficou fechada durante décadas com centenas de obras de arte. A visita à igreja é obrigatoriamente guiada, mas o visitante pode passear pela área do museu por quanto tempo desejar. Não é possível fotografar o interior do edifício, que é bem bonito.

Na outra extremidade da praça, avistamos a Casa das Onze Janelas, um ponto turístico da cidade construída no século XVIII para ser a moradia de Domingos da Costa Barcelar, um rico senhor do engenho.

O edifício faz parte do conjunto arquitetônico e paisagístico denominado Feliz Lusitânia. Ele abriga, além do espaço museológico, o “Boteco das Onze” que, apesar do nome, é um dos restaurantes mais qualificados de Belém. A área que envolve a Casa das Onze Janelas possui um conjunto de equipamentos culturais, como o Jardim de Esculturas, o Navio Corveta e o palco, que se projeta sobre a baía.*

Em 1768, a casa foi adquirida pelo governo do Grão-Pará para abrigar o Hospital Real, que funcionou até 1870 e mais tarde a casa passou a ter funções militares. Em 2001, o Governo do Estado do Pará assinou um convênio com o Exército Brasileiro, alienando os terrenos da Casa das Onze Janelas e do Forte do Presépio em favor do turismo em Belém. Hoje o palacete é um dos cartões postais da capital paraense e um dos pontos turísticos mais visitados da Cidade Velha.*

Fizemos uma breve visita às salas de exposições (sem direito a fotos) e, em seguida, fomos conhecer o Forte do Presépio, que fica logo ao lado.

Inaugurado em janeiro de 1616, o Forte do Presépio foi o marco inicial da colonização da Amazônia por Portugal, que mais tarde, daria origem à cidade de Belém.

O lugar é bem preservado e foi integrado ao projeto Feliz Lusitânia em 2001, quando o Governo do Estado do Pará conseguiu sua alienação, tranformando-o em um museu  com exposição de longa duração. Seu acervo é amparado em pesquisas históricas, arquitetônicas e arqueológicas.

Chegamos exatamente na hora em que o museu estava fechando, mas pudemos passear pela parte externa do forte, apreciando a vista do rio e do mercado Ver-O-Peso.

De lá, seguimos para o Mangal das Garças, um dos lugares mais impressionantes da cidade! A entrada no parque é grátis, mas existem 4 atrações pagas que valem muito a pena: o Farol de Belém, o borboletário, o viveiro de aves e o Memorial Amazônico de Navegação. Cada ingresso custa 3 reais, mas se você preferir o pacote completo, ganha um desconto e paga somente 9 reais.

O espaço foi criado pelo Governo do Pará em 2005 e é o resultado da revitalização de uma área de cerca de 40 mil metros quadrados às margens do rio Guamá.

O parque foi concebido com o objetivo de representar as diferentes paisagens naturais do Pará:  as matas de terra firme, as matas de várzea e os campos, além de sua fauna característica.

Com lagos, aves, vegetação típica, áreas de lazer, restaurante e vistas espetaculares do rio, o Mangal das Garças é um dos pontos turísticos imperdíveis de Belém!!!!

A torre (Farol de Belém) de onde é possível observar lindas vistas do parque e do rio.

O mirante do Farol de Belém

Para quem tem medo de altura, ficar em uma das extremidades do mirante pode gerar algum desconforto, mas vale muito a pena observar as lindas paisagens que se descortinam lá embaixo, mesmo que seja por um curto espaço de tempo!

Vista do Mangal a partir do mirante
Vista do lago, do borboletário, do deque de madeira e dos guarás a partir do mirante

Quando avistei esses pássaros de cor vermelha, fiquei encantada! A intensidade do tom era tanta que eles pareciam ter sido pintados. Comentei com o Marcelo que Belém foi provavelmente o lugar que mais fotografei esse ano e os guarás ocuparam boa parte do meu cartão de memória!!!!

O guará é considerado uma das mais belas aves brasileiras justamente por causa de sua cor. Ele mede cerca de 50 a 60 cm, tem bico fino, longo e levemente curvado para baixo. Sua plumagem possui esse vermelho extra forte por causa da alimentação à base de caranguejo chama-maré, responsável pela produção do pigmento que tinge as penas.

É curioso descobrir que a alimentação influencia na coloração das penas das aves, né? Mas essa não foi a primeira vez que ouvi falar nisso. Quando estive no Deserto do Atacama, descobri que o mesmo acontecia com os flamingos cor de rosa.

Aliás, também tem flamingos no Mangal das Garças

…e patinhos coloridos muito fofos!

O que eu achei mais curioso foi a convivência pacífica entre iguanas, garças, patos etc. Eram vários espalhados por todo o parque e a bicharada parecia não se importar com a nossa presença, a não ser que nos aproximássemos muito…

Os patinhos e eu

A garça e eu

Marcelo encarando uma iguana

Foi só no borboletário que eu fiquei tensa porque… EU TENHO MEDO DE BORBOLETA!!!!! Pronto, confessei. Imaginem isso: eu perseguia as iguanas, mas dava gritinhos e fugia das borboletas mais ousadas que tentavam pousar em mim. É sério, gente, sinto o maior desconforto quando percebo um desses insetos por perto, quanto mais, centenas!!!!

Mas o lugar é bem bonito e abriga diversas espécies, incluindo esse tipo que parece ter olhos de coruja estampados em suas asas.

No viveiro de aves, encontramos essa espécie bem quietinha descansando alheia à nossa presença…

…e também o pássaro da foto acima, que tinha um vistoso topete cacheado muito engraçado!

Antes de visitarmos o Memorial Amazônico de Navegação, caminhamos pelo deque que avistamos lá de cima do farol e apreciamos em silêncio a bela vista do rio tranquilo e da exuberante vegetação em seu entorno.

O Memorial Amazônico de Navegação é pequeno e a visita é rápida, mas interessante. Lá os turistas aprendem sobre a evolução dos meios de transporte de navegação na Amazônia por meio do aspecto militar, comercial e regional. Este último é representado pela exposição dos tipos de barcos mais comumente utilizados na região norte.

Do Mangal, seguimos para o Espaço São José Liberto, que atualmente abriga o Museu de Gemas do Pará, o Pólo Joalheiro, uma capela em estilo barroco e a Casa do Artesão. No passado, funcionou como presídio e cada antiga cela foi transformada em uma loja de jóias.

O paisagismo do jardim é muito bonito e a primeira coisa que se vê ao chegar lá é uma rocha gigante de cristais de quartzo que pesa 2,5 toneladas. Entrando no edifício, o visitante descobre uma extensa área central que é utilizada para abrigar eventos como casamentos, coquetéis e desfiles de moda. Ao redor desse espaço, vimos várias lojas de artesanato típico e uma sorveteria.

Voltamos em direção à Estação das Docas à pé, passando pela simpática Praça Batista Campos, uma charmosa área de lazer para a família que tem coreto, laguinho, pequenas pontes e muito verde.

A Estação das Docas fica ao lado das Docas do Pará e surgiu a partir da revitalização do antigo porto da capital paraense depois de uma grande reforma. Os armazéns mantiveram suas características originais, mas receberam decoração, iluminação e climatização especiais.

Eu A-M-E-I a atmosfera desse lugar e o achei parecidíssimo com o Puerto Madero, em Buenos Aires. O ambiente é super agradável e descontraído.

Mesmo que a gente não quisesse se sentar e beliscar alguma coisa em um dos diversos restaurantes do complexo, um passeio pelas margens do rio já seria motivo suficiente para nos deslocarmos até lá e passar um bom tempo observando o vai-e-vem dos pequenos barcos…

…ou dos barcos maiores que partem com turistas para outros destinos.

O Marcelo já havia pesquisado sobre a AMAZON BEER, uma cervejaria artesanal inaugurada em 2000 na Estação das Docas. Lá são produzidos seis tipos de cervejas, que atendem aos mais variados gostos e estilos.

Como bons apreciadores de cerveja, experimentamos todos os tipos oferecidos pela casa. Eu gostei muito da Black, Red e Forest Bacuri, já o Marcelo preferiu a River e a Weiss. Também provamos a Witbier Taperebá, uma exótica mistura de cerveja de trigo com cajá.

Gostamos tanto da experiência que resolvemos levar pra casa quatro garrafinhas: duas da Forest Bacuri e duas da Witbier Taperebá.

Os tonéis da cervejaria ficam expostos na parte interna da Estação das Docas e possuem um projeto de iluminação bem bonito.

O espaço amplo tem dois andares e tirei essa foto lá de cima. O Armazém 1 é conhecido como o Boulevard das Artes, o Armazém 2 é o Boulevard da Gastronomia e o Armazém 3 é o Boulevard das Feiras e Exposições. Além de restaurantes variados, há também lojas de roupas, artesanato, cinema, teatro, agência de turismo e uma exposição permanente com a história do porto.

O grupo de músicos da foto acima tocava clássicos da MPB nessa espécie de mezanino flutuante, que se deslocava de ponta a ponta no Boulevard da Gastronomia entretendo os visitantes. Eu nunca tinha visto nada parecido, mas meus pais estiveram em Belém há dez anos e já conheciam essa atração. Achei o máximo!!!!!

Depois de bebericarmos na Amazon Beer, pagamos a conta e fomos procurar algum lugar para jantar na Estação das Docas mesmo.

Na lista das sugestões que recebemos, havia um restaurante chamado LÁ EM CASA, muito bem recomendado. Apesar do conforto do ar condicionado do lado de dentro, preferimos aproveitar a brisa que soprava lá fora e escolhemos uma mesa ao ar livre.

Gostei do restaurante assim que vi o cardápio e nem estou me referindo aos pratos oferecidos pela casa, mas ao design da peça.

A primeira página era toda ilustrada e havia breves textos explicativos sobre cada uma das matérias primas utilizadas na elaboração dos pratos típicos da culinária paraense.

A gente queria provar de tudo um pouco e havia uma opção perfeita para isso: o combinado paraense. O pedido inclui uma série de degustações que ilustram o que há de mais representativo entre as receitas regionais. Para começar, recebemos um prato contendo dois pedaços de pirarucu frito (conhecido como “bacalhau da Amazônia”), uma salada de feijão manteiguinha de Santarém, um pouco de farofa de pirarucu, uma porção de muçuã de botequim (feito com músculo bovino) e camarão temperado. No potinho branco foi servido molho de leite de coco e cebola para regar as entradas.

Como o Marcelo não come frutos do mar, eu ganhei duas porções de camarão temperado e fiquei super feliz, mas ironicamente, foi o que menos gostei no prato! O tempero estava bom, mas esse tipo de camarão pequenininho não agrada o meu paladar. De resto, estava tudo D-E-L-I-C-I-O-S-O!!!!

O prato principal incluiu os tradicionalíssimos pato no tucupi e maniçoba. Acompanhados de arroz branco e farinha de mandioca, os dois foram servidos em panelinhas de barro.

Eu já havia experimentado pato umas três vezes na vida, mas não gostava muito do sabor meio amargo da carne. Na versão paraense, o pato estava saborosíssimo, desmanchava na boca de tão macio e eu não senti nenhum amargor. O tucupi é um molho de cor amarela extraído da raiz da mandioca brava e o jambu é uma erva típica da região norte que tem propriedades anestésicas e deixa a boca um pouquinho dormente…super interessante! Adorei o prato!!!!

Eu estava meio reticente com relação à maniçoba, também conhecida como “feijoada paraense”, conforme relatei no início do post. Sua aparência não é das mais agradáveis, mas o sabor… hummmmmm, me conquistou na primeira garfada!!!!

Eu só consegui perceber uma diferença entre a feijoada paraense e a tradicional: a substituição dos grãos de feijão pela folha de maniva. É claro que isso influencia na textura, mas o sabor é exatamente o mesmo da feijoada que conhecemos. Ou, pelo menos, essa foi a minha impressão. Dei nota dez pra tudo, mas a nossa aventura gastronômica não parou por aí…

Para fechar a degustação, foram servidos sorvete e suco de cupuaçu. Eu já conhecia e gostava muito da fruta, mas nunca comi um sorvete tão cremoso!!!! Recomendo muito o Lá em Casa e saí do restaurante satisfeitíssima.

Aliás, eu estava tão satisfeita que só consegui provar o famoso sorvete CAIRU no dia seguinte, mas também tirei o atraso: tomei duas bolas e depois pedi mais duas!!!!

Lá você encontra sorvetes de taperebá, bacaba, tapioca, bacuri, açaí, uxi e outros sabores tão raros quanto deliciosos. O meu preferido foi o CARIMBÓ, que é uma mistura de  castanha do pará com doce de cupuaçu… simplesmente sensacional!

No dia seguinte (domingo), fomos passear na Praça da República, onde acontece uma feirinha de artesanato pela manhã. Depois visitamos o belíssimo Theatro da Paz, que fica ali na praça mesmo.

O Theatro da Paz foi fundado em 15 de fevereiro de 1878, durante o período áureo do Ciclo da Borracha, quando ocorreu um grande crescimento econômico na região. Belém viveu um significativo processo de transformação sócio-econômico nesse período, chegando a ser chamada de “A Capital da Borracha”. Mas, apesar desse progresso, a cidade ainda não possuía um teatro de grande porte, capaz de receber espetáculos do gênero lírico. Buscando satisfazer o anseio da sociedade da época, o governo da província contrata o engenheiro militar José Tiburcio de Magalhães que dá inicio ao projeto arquitetônico inspirado no Teatro Scalla de Milão (Itália).*

Detalhe do lustre de cristal francês e da pintura no teto representandoo as artes gregas

Detalhe do piso de mosaicos feitos com pedras portuguesas coladas com o grude do Gurijuba (peixe encontrado na região)

A Sala de Espetáculos que originalmente possuía 1.100 lugares, hoje comporta 900. As cadeiras conservam o estilo da época em madeira e palhinha adequadas ao clima da região. A balaustrada é toda em ferro inglês folheado a ouro. A pintura em afresco do teto central apresenta elementos da mitologia greco-romana fazendo uma alusão ao Deus Apolo conduzindo a Deusa Afrodite e as musas das artes à Amazônia.*

No centro do teto foi adaptado o lustre em bronze americano que substituiu um grande ventilador que ajudava amenizar o calor. Nas paredes, com motivos florais, as pinturas imitam o papel de parede.*

O pano de boca pintado na França no ateliê Carpezat intitulado “Alegoria à República“ foi inaugurado em 1890 em celebração a República Brasileira.*

O interior do teatro é realmente muito bonito e cheio de detalhes, como essas curiosas peças de metal fixadas nos degraus da escadaria e o piso em marchetaria.

Detalhe das placas de metal com desenhos

O Salão Nobre (Foyer), local onde a nobreza costumava se reunir para bailes, pequenos recitais e durantes os intervalos dos espetáculos, é um espaço ricamente decorado com espelhos, lustres em cristal francês e bustos em mármore de carrara de dois grandes compositores da época: Carlos Gomes e Henrique Gurjão. Quanto à pintura do teto feita em 1960, é do pernambucano Armando Baloni, que se inspira nas musas da música ladeadas pela fauna e flora amazônica. As paredes, pintadas pelos italianos, retratam motivos neoclássicos com buquês de flores.*

Detalhe de uma das estátuas que ficam na fachada do teatro

Depois da visita guiada ao teatro, seguimos em direção à Basílica Santuário de Nazaré, o local onde termina a procissão do famoso Círio de Nazaré.

A Basílica de Nazaré foi inspirada na Basílica de São Paulo, em Roma e seu interior é todo de mármore com um belo forro de madeira e vitrais coloridos.

Na fachada, um painel em mosaico mostra a Virgem de Nazaré como Rainha da Amazônia, num cenário regional onde estão índios, negros, Jesuítas, Capuchinhos, e, também, as figuras de Pedro Álvares Cabral, Castelo Branco (fundador da cidade de Belém), Dom Bartolomeu (primeiro Bispo de Belém), o caboclo Plácido, Dionísio Ausier Bentes (governador à época da inauguração) e uma família de operários, entre outros personagens.*

Detalhes da arquitetura interna da basílica

A Basílica Santuário tem o conjunto de sinos mais antigo e completo do Brasil. Os sinos, que datam de 1966, foram os primeiros eletrificados do país.*

Chegamos no meio de uma missa e discretamente tiramos algumas fotos antes de partirmos para a próxima atração.

O Museu Emilio Goeldi é um parque zoobotânico, onde pode-se caminhar por trilhas cercadas de verde e espiar animais em jaulas ou mesmo soltos. Dentro da construção principal, há uma exposição sobre o trabalho realizado pelos biólogos do parque, curiosidades sobre a fauna e a flora da região e alguns bichos empalhados.

Vimos muitas tartarugas e jacarés durante o passeio e alguns deles eram enormes!

Detalhe do jacarezinho entre dezenas de tartarugas

A Vitória-régia sempre me impressionou pelo seu tamanho e caráter exótico. Pesquisando para esse post, descobri que ela pode chegar a ter até 2,5 metros de diâmetro e suportar até 40 quilos se forem bem distruibuídos em sua superfície.

A parada seguinte foi no Parque da Residência, para uma rápida visita. O local funcionou como residência dos governadores do estado. É um parque pequeno, porém bonito e bem cuidado.

O parque possui pavimentação de pedras portuguesas, belas luminárias de ferro, estátuas delicadas, um palacete do início do século XX, um coreto e um orquidário, além de um pavilhão para exposições e eventos que estava fechado no dia da nossa visita.

De lá, seguimos para o Jardim Botânico da Amazônia, ou Bosque Rodrigues Alves, outro parque para se caminhar em meio à exuberante vegetação.

O bosque é bem maior que o do Museu Emilio Goeldi e vimos muitas famílias aproveitando o domingo para passear e fazer piqueniques, uma delícia!

O parque contém algo em torno de 85 mil espécimes de animais e plantas, além de algumas construções interessantes como a fonte acima e a gruta artificial da foto abaixo.

Encontramos trilhas, lagos, animais, uma área com brinquedos e até alguns quiosques servindo comida típica dentro do parque.

Com certeza, é um local bem agradável para se passar o fim de semana com a família, mas eu estava meio cansada e sugeri ao Marcelo que a gente voltasse à Estação das Docas para experimentar mais algumas comidinhas e passar o resto do tempo antes da hora do embarque relaxando nesse lugar tão aconchegante! Pensamos em conhecer o REMANSO DO BOSQUE, restaurante conceituado e recomendadíssimo comandado pelos chefs Thiago e Felipe Castanho, que fica perto do jardim botânico, mas confesso que eu estava mais a fim de uma comidinha simples em um ambiente despojado. Bom, fica pra próxima!!!!

Voltar à Estação das Docas foi tudo de bom!!!! Assim como eu acho que Puerto Madero é um dos lugares mais charmosos de Buenos Aires, posso dizer o mesmo da Estação com relação à Belém.

Não estávamos com muita fome, mas queríamos saborear outros pratos da cozinha paraense antes de voltar ao Rio. Então decidimos pedir uma porção de bolinhos de pato no tucupi na AMAZON BEER.

Apesar de sentir o tal amargor da carne de pato, achei os bolinhos bem gostosos, crocantes e sequinhos.

Como prato principal, optei pelo “filhote”, também conhecido como Piraíba-filhote ou Piraíba. Trata-se de um peixe de água doce da região amazônica que pode atingir até 2,50 m de comprimento e 300 kg de peso. Ele é muito apreciado na culinária paraense e sua carne é tão tenra que desmancha na boca.

O Filhote com crosta de parmesão veio acompanhado de camarões e arroz de jambu. Até o Marcelo (que não gosta de frutos do mar) experimentou o prato e repetiu!

Na lista de comidinhas que gostaríamos de provar, só faltou mesmo o tacacá.

Depois do almoço, provamos alguns sabores do sorvete CAIRU e seguimos para o aeroporto com um gostinho de “quero mais”.

Na decolagem, pudemos admirar toda a exuberância dos rios e florestas lá de cima e eu, que nunca tinha sonhado em conhecer a Amazônia, fiquei com uma imensa vontade de voltar à região norte no ano que vem. Se tudo correr conforme o esperado, Manaus está no topo da nossa lista!

Um grande beijo pra todos com um agradecimento especial à Danyella Colares, simpaticíssima blogueira em cujo blog ISSO É BELÉM me inspirei para escrever esse post. Hoje em dia ela mora na Espanha e edita o ótimo FERIADO PESSOAL, no qual dá muitas dicas do que ver e fazer por lá. É claro que também preciso agradecer à Cath Vale (do blog UTENSÍLIOS), que nos recebeu de forma tão empolgada e calorosa no “Veropa”!!!!

*Fontes:
http://www.mochileiros.com/fim-de-semana-em-belem-pa-t74310.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ver-o-Peso
http://www.slowfoodbrasil.com/textos/alimentacao-e-cultura/398-um-olhar-sobre-o-mercado-ver-o-peso-comida-cultura-e-brasilidade
http://brasilsabor.com.br/por/iguarias/item/20
http://issoebelem.wordpress.com/
http://eradoferro.diarioonline.com.br/textomercadodecarne/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Palacete_das_Onze_Janelas
http://www.mangalpa.com.br/
http://www.wikiaves.com.br/guara
http://brasilsabor.com.br/por/roteiros/artigo/33
http://www.theatrodapaz.com.br/
http://www.basilicadenazare.com.br/portal/historico-basilica.html

Bonfa-ass