Daryan Dornelles é fotógrafo profissional desde 1993. Formado em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 1998, é colaborador de diversas revistas como Placar, Época, Bravo, World Soccer (Inglaterra), Bizz, Serafina, TPM, entre outras. Ele fotografa para as principais gravadoras e já desenvolveu capas de CD para o Barão Vermelho, Tereza Cristina, João Donato, Andy Summers etc. Foi um dos ganhadores do Prêmio Abril de Jornalismo em 2007. É sócio do estúdio FOTONAUTA, que completa dez anos em 2010.
Querem saber como eu conheci o trabalho desse profissional sensacional? O Daryan é irmão de uma grande amiga minha, companheira de muitas aventuras, micos, risadas e momentos inesquecíveis, a Andréa Dornelles. Nos conhecemos no início dos anos 90 e há mais ou menos três anos, ele se tornou meu cunhado, casando-se com minha irmã mais nova, a Marcinha.
Essa entrevista demorou a sair porque eu não tenho nenhuma formação jornalística e não sabia que perguntas deveria fazer. Foi um tiro no escuro! Mas com alguma pesquisa e muita vontade de mostrar a vocês o trabalho desse grande artista que agora faz parte da minha família, o resultado está hoje aqui. Munida de um gravador emprestado por um amigo, segue a transcrição da nossa conversa, entremeada por fotografias de autoria do Daryan.
Daryan, como começou sua paixão pela fotografia? O que te incentivou?
Posso dizer que minha paixão pela fotografia começou por acaso. Não havia ninguém na minha família que trabalhasse com imagens, nunca tive essa referência quando era criança. Eu sempre gostei muito de cinema e também adorava ver fotos em revistas, mas nunca pensei nisso como um trabalho que eu gostaria de fazer. Na época da faculdade, eu também fazia natação e um dia tive a oportunidade de ir ao Chile participar de uma competição. Eu tinha levado a máquina fotográfica de um amigo e me convidaram pra fazer algumas fotos do evento. A partir daí comecei a me interessar pelo assunto, a estudar cada vez mais e aí sim, me apaixonei pela fotografia.
Fernanda Montenegro clicada por Daryan Dornelles para matéria da revista BRAVO.
Ah, é? Eu pensei que você tivesse começado a se interessar pela fotografia por causa da faculdade de cinema que você cursava…
Não exatamente. Na faculdade eu comecei a estudar várias matérias como edição, produção, direção e fotografia de cinema. Foi nessa época que comecei a conhecer os tipos de câmera e a usá-las. Aprendi também a trabalhar com foco e comecei a praticar com a máquina desse meu amigo que não a usava. Essa combinação de fatores aliada ao episódio acontecido no Chile é que despertaram minha vontade de me dedicar à fotografia. Na época, eu só não tinha noção da responsabilidade inserida nesse contexto. Até o prefeito de Santiago compareceu à competição. Mas o resultado do meu trabalho foi bem recebido e elogiado e eu gostei muito da adrenalina que senti ao fotografar. E consegui me livrar de nadar naquele frio!
Capa histórica da revista Bravo, em página dupla, retratando Maria Rita, Fernanda Torres, Fernando Meirelles, Milton Hatoum, Deborah Colker, Beatriz Milhazes, Fernanda Takai, Arnaldo Cohen e Felipe Hirsch. Todos fotografados pelo Daryan.
Quando tirou sua primeira foto profissional?
Eu considero que as fotos da competição de natação foram minhas primeiras fotos profissionais mesmo.
Quais suas referências, seus maiores ídolos?
Não tem alguém específico que eu possa dizer “esse cara é meu ídolo”. Acho que vários profissionais que admiro tem facetas interessantes que eu posso estudar e usar como referência. Existem vários fotógrafos maravilhosos como Richard Avedon, Patrick Demarchelier e Irving Penn, entre tantos outros que admiro.
Que nicho da fotografia você mais gosta / O que você mais gosta de fotografar?
Todos os fotógrafos que eu citei na pergunta anterior trabalham com fotografias muito simples e são ótimos retratistas, que é o nicho da fotografia no qual me especializei e é também o que eu mais gosto. É justamente onde meu trabalho profissional se confunde com o pessoal. Sou até chamado pra fazer outros tipos de fotos, mas meu foco é mesmo o retrato.
E a Annie Leibowitz não entra nessa lista? (Olha eu querendo dar uma de entendida…)
Ela também é uma fotógrafa maravilhosa, mas foi influenciada pelos outros que citei acima. O Richard Avedon elevou o retrato à uma categoria mais artística, assim como a Diane Arbus*.
*Nota da BONFA: Existe um filme muito bom (na minha opinião) sobre a artista, protagonizado pela Nicole Kidman e Robert Downey Jr., chamado FUR: AN IMAGINARY PORTRAIT OF DIANE ARBUS
A seguir, alguns retratos feitos pelo Daryan.
Mister Katra
Capa para a revista SOMA
Gisele Bündchen
Foto para a Procter & Gamble
Nelson Sargento
Cantor e compositor
Ney Matogrosso
Cantor e compositor
Milton Nascimento
Cantor e compositor
Ivete Sangalo
Cantora
Lulu Santos
Cantor e compositor
Gilberto Gil
Cantor, compositor, ex-ministro e ídolo da Bonfa!
Chico Buarque
Cantor, compositor, escritor, ídolo da Bonfa e da Sissi!
Fernanda Lima
Apresentadora, modelo e atriz
Selton Melo
Ator, diretor e ídolo da Bonfa!
Erasmo Carlos
Cantor e compositor
Você é um dos sócios do estúdio FOTONAUTA. Como surgiu a ideia de abrir uma empresa? Que diferença fez para a sua carreira?
A abertura da empresa junto com meus dois sócios foi um grande passo na minha vida. Além de trabalhar em conjunto, que é algo de que gosto muito, a união de forças e de capital torna possível a aquisição de equipamentos de ponta, que tem um alto custo, mas são importantíssimos para se obter um bom resultado na fotografia.
Como você conheceu seus sócios?
Conheci o Eduardo fotografando jogos no Maracanã. Nós não éramos amigos, mas percebemos uma afinidade logo de cara. Gostamos muito do estilo um do outro e formamos um parceria que já dura dez anos. Temos um conceito muito parecido do que é fotografia, do que a gente busca ao fotografar. Parece que tudo na minha vida em relação à fotografia acontece por acaso!
O Edu Monteiro é fotógrafo profissional desde 1991, pós-graduado em fotografia pela UCAM e graduado em jornalismo pela Unisinos. Trabalhou 4 anos na revista Placar e é atual colaborador da National Geographic e Striker (Japão), entre outras. Atualmente desenvolve o projeto Mandingueiros, onde interpreta a magia dos velhos mestres da capoeira Angola. E possui o site/blog: www.edumonteiro.net com seus trabalhos mais sórdidos e pessoais...
A Andréa é mulher do Eduardo, formada em Jornalismo pela UFSC e pós-graduada em Fotografia pela UCAM, tendo começado sua carreira no Curso Abril de Jornalismo de 1999. Trabalhou nas revistas Isto é, Caras e Capricho. Atualmente colabora com diversas publicações nacionais, principalmente na área de decoração e arquitetura. Desenvolve projetos autorais junto ao trabalho na Fotonauta, como a série Água.
Que imagem/acontecimento/conceito te chama mais atenção na hora de clicar? O que você busca na hora de fotografar?
Eu busco uma boa foto, forte e expressiva. Não vou te dizer que eu procuro capturar a “alma” do fotografado. Sinceramente, acho isso uma baboseira. Você às vezes só tem 5 minutos pra fotografar e é impossível estabelecer qualquer tipo de relação em um tempo tão reduzido. O que eu faço é tentar conhecer um pouco da vida da pessoa antes de encontrá-la para a sessão, fazendo algumas pesquisas. Por exemplo, se eu vou fotografar a Bethânia, eu escuto o último disco dela, leio as entrevistas mais recentes, procuro ver retratos que ela já tirou, até para não repetir o mesmo padrão. Assim, eu já imagino o tipo de imagem que eu quero captar antes de fazer a foto. Confesso que eu busco a simplicidade e fazer o simples bem feito é muito mais difícil em qualquer área: na fotografia, na música, na gastronomia etc. Fazer um retrato não é algo simples, são poucos os fotógrafos especializados. Ouso dizer que é o mais difícil na fotografia. Você precisa saber usar bem a técnica e interagir com o fotografado de modo a deixá-lo à vontade para que ele se sinta bem em frente à câmera. O modelo tem que se sentir confortável, confiar no que o profissional está pedindo e estar disposto a colaborar.
No fotojornalismo, por exermplo, se o profissional conhecer bem as técnicas de fotografia, ele vai conseguir captar bem o momento, mas não vai interferir na foto. Ele estará somente registrando um acontecimento da melhor maneira que souber fazê-lo. Eu gosto da interferência que tenho no meu trabalho.
Você fotografa muitos artistas ligados à música e sei que você tem em casa uma vasta coleção de LPs. A música tem influência no seu trabalho?
Eu ouço música durante umas doze horas por dia em média: em casa, no trabalho, no carro e andando de bicicleta. A música sempre fez parte da minha vida. Tem músicos e artistas que me inspiram mais a fotografar porque os admiro demais. Já vou para a sessão mais bem preparado, com a obrigação de corresponder às minhas expectativas porque eu já tenho na mente a imagem que pretendo captar. Geralmente quando você chega ao nível de ser convidado a fotografar ícones da música brasileira, as fotos são encomendadas por veículos importantes e a expectativa com relação ao resultado do seu trabalho é grande. Isso gera uma responsabilidade imensa pra mim, pra quem me contratou e pra quem aceita ser fotografado.
Mas tem um lado que me deixa mais seguro. As pessoas já tem essa noção, já conhecem o meu trabalho e toparam a empreitada. Por isso, normalmente sou muito bem recebido e o resultado agrada a todos os envolvidos.
Aos mesmo tempo, também sou convidado a fotografar artistas que não tem muito a ver com o estilo musical que gosto. Mas no decorrer da sessão, percebo que o cara tem um profundo conhecimento de música, além de conceitos surpreendentes em relação ao que ele pretende exprimir através da sua obra e essa descoberta faz com que eu comece a admirar esse profissional.
Quais os trabalhos que mais te agradaram até hoje?
A capa do CD do Barão Vermelho, de quem sempre fui fã, foi um dos que mais me agradou. É uma banda que curto desde que era adolescente e foi praticamente a realização de um sonho. Também gostei muito de fotografar a Fernanda Montenegro para a BRAVO. Além de admirar demais a artista, também aprecio muito o veículo onde a matéria foi publicada. O Martinho da Vila e Sérgio Brito são caras especialíssimos e me senti muito honrado em ter a oportunidade de fotografá-los.
Martinho da Vila na capa da revista SERAFINA.
Quais os prêmios que recebeu como fotógrafo?
Bom, o melhor e mais coneituado prêmio que recebi até hoje foi o Prêmio Abril de Jornalismo em 2007. Foi por causa de uma foto tirada em São João do Araguaia no Pará, que fez parte de uma matéria escrita pelo jornalista André Rizek. Foi uma matéria polêmica e eu sabia que estávamos nos metendo num “vespeiro”. Confesso que eu não queria participar disso. Estão vendo? Mais uma vez o acaso ou o destino mudou o rumo das coisas…
Qual o lado ruim da profissão? E o bom?
Acho que pra mim, não existe lado ruim. Às vezes preciso trabalhar nos finais de semana, viajar para outros estados e fotografar em horários alterativos, mas isso também me permite ter mais flexibilidade e liberdade no trabalho. Como sou casado com uma médica plantonista, que também não cumpre horários convencionais de trabalho, acho que isso acaba sendo um benefício.
A seguir, fotos tiradas durante uma viagem do casal à Paris.
Tem algum projeto para o futuro?
Sim. Na verdade, existem dois projetos já em andamento. Um deles se chama RETRATOS SONOROS e será lançado pela Ediouro em breve. Há também o livro BASTIDORES DO SAMBA, que contém cenas carnavalescas e está praticamente pronto.
Quer deixar alguma dica para quem está começando? Você acha que existe alguma receita para se destacar no mercado?
Minha dica pra quem está começando agora é: estude, estude muito. Inscreva-se em cursos, compre livros, espelhe-se em profissionais conceituados, mas busque o seu próprio estilo, o seu diferencial. É isso que vai fazer com que você se destaque no mercado.
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Gente, eu amei fazer essa entrevista! Passei o domingo inteiro preparando o post, mas acho que valeu muito a pena! O Daryan é um profissional maravilhoso, como vocês puderam constatar pelas fotos exibidas aqui. Mas o que vocês não tem como saber pela entrevista e que eu posso garantir, é que além de ser extremamente talentoso, Daryan é um cara despojado, humilde e muito simples. Ele leva a vida numa boa e sabe dar valor ao que realmente importa. Status, glamour e poder não são questões valorizadas na vida desse cara pacato, tranquilo e muito ligado à família e aos amigos. Por isso é que a sogrinha (mami) gosta tanto dele!!!! Fica aqui registrada minha grande admiração por essa pessoa especial!
De todas as beldades fotografadas pelo Daryan, essa é sua preferida. Trata-se da Marcinha, minha irmã mais nova e também minha melhor amiga! Amo você, irmãzinha!!!! Eles formam um lindo casal, vocês não acham?
Esses são seus três “filhotes” resgatados de abrigos ou das ruas. Como é costume na família, somos a favor da adoção de animais de estimação!
Conheça mais trabalhos do Daryan nesses links:
www.fotonauta.com.br
www.blogfotonauta.wordpress.com
http://www.flickr.com/photos/daryandornelles/
Em breve eu também gostaria de entrevistar o Edu e a Andréa e, antes mesmo de falar com eles pessoalmente, resolvi deixar registrado meu convite aqui… o que vocês acham? Aceitam participar da Seção BONFA CONVIDA? Eu adoraria!!!!
Beijos e um ótimo final de semana!!!! Na segunda-feira vou mostrar todas as lindas fotos que recebi e que estão concorrendo a um presente que trarei da minha viagem à Europa daqui a duas semanas! Boa sorte aos participantes!