quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A diferença entre as festas infantis no Brasil e na Alemanha: ostentação x sensatez?

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Bom dia, pessoal!!!! O post de hoje tem um quê de polêmica e eu estou curiosa pra saber a opinião de vocês. Eu tenho a minha, que é muito parecida com a da Georgia, brasileira que mora na Alemanha há muitos anos e é a minha convidada de hoje. Há tempos percebo que as festas infantis no Brasil estão cada vez maiores, mais pomposas e muito mais caras do que quando eu era criança e me esbaldava nas brincadeiras de queimado ou pique-bandeira nas festas da minha prima Carla. Eu esperava o ano inteiro pelo aniversário dela porque era diversão garantida! Tinha bolo, doce, refrigerante, salgadinho e um pequeno espaço no terraço do prédio onde os convidados podiam brincar à vontade. Isso era mais do que o suficiente para que essas comemorações ficassem gravadas na memória como as melhores festas da minha infância!!!!! Os poucos convidados adultos faziam parte da família e de um pequeno grupo de amigos dos meus tios.

Tenho muitas amigas com filhos pequenos e outro dia quase caí pra trás quando soube do preço médio que as casas de festas na zona sul do Rio cobram por algumas horas de entretenimento. Eu nunca me meto em assuntos de crianças justamente pelo fato de não ser mãe, mas sei que meu perfil não combina com festas grandes e nababescas. Vocês podem reparar que todas as comemorações que já mostrei e continuo mostrando aqui no blog tem pouquíssimos convidados. Minha maior festa recente foi uma feijoada para 30 pessoas na casa dos meus pais em 2010. Eu não quis uma festa de casamento porque preferi juntar dinheiro pra obra do apartamento que havíamos comprado na época. E isso não foi nenhum sacrifício, eu simplesmente nunca sonhei em me casar. Sempre troquei festas por viagens quando havia essa opção. Foi assim aos 15 anos (fui à Disney e tive uma festa simples e não tradicional) e será assim aos 40!

Por esses exemplos, acho bastante improvável que eu cedesse ao apelo comercial das grandiosas festas infantis dos primeiros anos de vida. Mas essa é só a minha opinião que, na verdade, reflete muito a minha personalidade e o modo de vida que valorizo. O post de hoje foi o resultado de algumas trocas de e-mails com a Georgia, que veio nos contar sua experiência com as festas infantis na Alemanha e cujo relato me trouxe uma gostosa nostalgia...

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A festa de aniversário infantil na Alemanha é bem diferente da que nós brasileiros conhecemos. Nao há essa produção toda e nada de muito doce. Até os 3 anos os pais não fazem quase nada. A não ser um lanche com bolo para o qual os avós são convidados e isso só na parte da tarde. Café com bolo e acabou.

Quando a crianca completa 3 anos, vai para o Jardim de Infância e é aí que começa a sua vida social. Quando ela faz aniversário, além do tradicional café da tarde só com a família, muitas vezes a mãe decide que a criança vai comemorar a data na própria escola. Então ela combina com a tia do Jardim que no dia tal ela vai levar um bolo para que o filho ou filha possa festejar com os coleguinhas. E isso é tudo. Muitas pessoas moram em apartamentos e nao têm espaco suficiente para receber as crianças. Outras trabalham e elas veem no Jardim da Infância uma boa oportunidade de tudo ser feito por lá mesmo.

Há aquelas que fazem assim no Jardim e também em casa com poucos amiguinhos. Se a criança estiver fazendo 4 anos ela só pode convidar 4 amigos, se faz 5 anos, 5 amiguinhos. Eles partem do princípio que assim a criança aprende a contar bem os números. E olha que os alemães  respeitam essa regra!

Quando a criança vai para a escola, aí sim eles comemoram mais. E entra também muita criatividade na hora de planejar a festa de aniversário. Uns fazem numa praça de brinquedos, outros convidam para o cinema, para nadar, para passar a tarde num museu ou num parque de diversoes tipo Tivoli Park, essas coisas.

Mas, olha, é somente a crianca que é convidada, os pais nunca são convidados e não há uma grande festa como nós fazemos no Brasil. Geralmente os convites são feitos pela própria criança e nele vem a hora do início e do fim da festa, que tem 3 ou 4 horas de duração. E os pais vão pontualmente buscar seus filhos.

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Na Festa do Morango da minha filha, ela mesma desenhou a fruta na capa do convite. Normalmente as festas aqui só tem bolo com suco e poucos doces. Nada de salgadinhos, os alemães não conhecem isso. Se a festa for dentro de casa, o que é mais comum, a mãe prepara algum trabalho manual com os convidados. A televisão nunca é ligada e as crianças brincam pra valer!

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Quando a festa está por terminar, uma pequena janta é oferecida às crianças. Pão com queijo, salame ou presunto. Algumas familias oferecem batata frita com alguma salsicha, bolinhas de carne moída, nuggets ou mini pizzas. Na porta de casa, ao se despedir dos amiguinhos, o aniversariante os presenteia com uma sacolinha contendo balinhas ou chocolates, além do trabalho manual que fizeram durante a festa.

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Eu gosto muito de como é feito aqui na Alemanha, pois a festa é para a criança e a criança se diverte. No Brasil, a festa é um monumento, muitas crianças nem entendem o que está acontecendo. O povo alemão gasta o que tem ou pode gastar e não cogitam a possibilidade de bancar uma festa que extrapole seu orçamento. Eles preferem usar o dinheiro para viajar e oferecer um aprendizado cultural aos filhos.

Katia, eu gostei muito do que aprendi aqui. Não é preciso muito dinheiro para deixar as crianças felizes. As festas dos meus filhos se baseiam muito nas minhas  brincadeiras de quando eu era criança e me lembro o quanto fui feliz assim, pois não tínhamos dinheiro. Os doces eram todos arrancados do pé no fundo do quintal: mamão, côco e abóbora.

Essas mega festas que acontecem no Brasil para quase 200 pessoas me parecem um exagero. Também sinto que as pessoas têm medo de mudar e serem julgadas por não terem dinheiro para festejar como “deveriam” e aí se endividam até a raiz dos cabelos. Loucura isso! As pessoas precisam se preocupar menos em ostentar. Isso é um ciclo vicioso.

Nesse caso, eu acho os alemães muito mais autênticos. Ninguém se preocupa em provar nada pra ninguém. Vamos acabar com esses velhos rótulos, vamos criar uma geração pé no chão consciente para a vida que está aí. 

Como te escrevi antes, não sou adepta de festa cara. Sou adepta das brincadeiras e sorrisos! Seguem as fotos do aniversário mais recente da Vivi, que custou entre 100-120 €.

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A Viviane nos pediu que este ano nós escondêssemos o presente dela em algum lugar da casa, pois ela achava muito chato simplesmente receber o presente e abri-lo. Então fiquei pensando numa forma dela andar a casa inteira procurando o presente e fiz uma lista com o título: “Wo verstecken Eltern die Geschenke für ihre Kinder?” (Onde os pais econdem os presentes das suas criancas?).

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Como nós temos uma casa de 3 andares, a brincadeira ficou bem legal. Eu chamei a escada de “montanha”. Então ficou assim a lista: “Suba a montanha até o escritório e na impressora você vai encontrar sua próxima tarefa”. Siga montanha abaixo até o lugar onde você toma banho para receber outra dica... e assim foi com nove tarefas relativas a idade que ela estava fazendo. Onde estava escondido o presente? Dentro da gaveta de biscoitos, rs.

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O tema da festinha foi: Viviane im Wunderland. Para decorar a porta de entrada, eu usei figuras de bule que a Viviane pintou e de alguns personagens da história da Alice no país das Maravilhas.

Convite para a festa de 9 anos da Vivi

Eu mesma confeccionei em papéis cartões bem grossos algumas cartas do baralho com naipe 9 por conta dos anos que estaríamos comemorando.

Convite para a festa de 9 anos da Vivi-001

A Viviane decorou o próprio bolo e os cupcakes. Ela também preparou uma historinha para as suas convidadas sobre um homem muito rico que vendeu tudo porque encontrou um diamante. O conto foi baseado em Mateus 13:44-46.

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No cestinho coloquei copos coloridos e uma caneta Pilot para que as crianças escrevessem seus nomes. Cada uma recebeu uma lista com tarefas que elas mesmas tinham que desenvolver no decorrer da festa. O ponto forte de toda a festa não foram os cupcakes, nem o bolo e nem as guloseimas. Foi o momento em que elas puderam se maquiar e pintar as unhas. Esse foi o momento em que elas soltaram o maior grito que ecoou pelo jardim, rs.

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E como recordação de tudo isso, as crianças levaram para casa o livrinho da historinha contada pela Vivi e uma xícara decorada com bolos, cupcakes, bule etc. Tudo a ver com o tema da festa!

Beijos, querida!

Georgia Aegerter

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Georgia, muito obrigada por me permitir reproduzir nossas trocas de e-mail sobre o assunto das festas infantis aqui no blog. Adorei saber que pensamos de forma parecida! A brincadeira das 9 pistas para a Vivi achar o presente foi ótima!!!! Sempre gostei de brincar de detetive quando era criança e achei a sua ideia muito criativa!

Você me fez lembrar de um ex-colega de trabalho que decidiu se hospedar por uma semana em um resort na Bahia com a esposa e a filha para comemorar o primeiro aninho da menina. Acho que eu fui a única a apoiar essa ideia, já que todos os outros colegas acharam um absurdo que o primeiro aniversário da criança passasse “em branco”. Eu, pelo contrário, achava um absurdo que uma semana curtindo a família em um hotel super agradável custasse o mesmo que uma festa que só duraria algumas horas, rs!

No primeiro parágrafo do seu texto, você mencionou que até os 3 anos os aniversários são comemorados de forma bem simples aí na Alemanha, né? Nessa idade a criança já revela sua preferência pelo personagem x ou y do desenho animado, mas não entende bem o que está acontecendo numa festa. Uma das coisas que mais valorizo quando viajo é o aprendizado, é estar aberta a vivenciar novas formas de estar no mundo e de me relacionar com as pessoas. A comemoração dos aniversários infantis é diferente em outros países e por mais que a internet esteja cheia de ideias lindas de festas mega caprichadas produzidas nos EUA, minha irmã do meio (que mora lá há 13 anos) me garante que o número de convidados normalmente não chega a 30. As festas que ela faz são sensacionais, extremamente criativas, originais e tem poucos participantes. Para conferir, vocês podem dar uma olhada em seu blog (FÊTE À FÊTE).

Acho que essa coisa de convidar 200 pessoas é algo bem brasileiro que foi ganhando força nas últimas décadas. Sei que em muitos casos há a pressão dos avós, tios e outros parentes para celebrar “em grande estilo” e por causa disso muitos pais se veem endividados pelo resto do ano. Vira quase uma obrigação. Conheço algumas pessoas que o fizeram sem muita vontade porque tiveram medo de se arrepender no futuro, preocupados que a criança mais tarde pudesse ver os álbuns de festa dos coleguinhas e notar que suas comemorações foram mais simples.

Entretanto acredito que, para a maioria dos brasileiros, fazer uma festa grande e registrar esses momentos especiais em um álbum recheado de fotos profissionais é muito gratificante e vale a pena. Se for esse o caso, penso que eles estão certíssimos em investir em algo que lhes dá prazer e satisfação.

De qualquer forma, independentemente da opinião de cada um, acho que questionar algo estabelecido como padrão é sempre um bom exercício de reflexão. Será que estamos gastando tanto com festas porque realmente queremos ou porque a sociedade diz que é assim que deve ser?

Eu vou tranquilamente na contramão quando algo considerado o “certo a fazer” não condiz com a minha vontade ou personalidade. Penso que o mais importante é sermos fiéis à nossa natureza e esquecer a comparação com os outros. E vocês, o que acham disso tudo?

Para conhecer melhor a Georgia, basta visitá-la em seu blog:

http://saia-justa-georgia.blogspot.com.br/

Um super beijo pra todos com votos de que a gente tenha sempre muitos motivos pra comemorar!!!!!

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