Menos de um mês antes do Carnaval de 2007, meu pai me mandou um e-mail perguntando se eu planejava viajar no feriado. Respondi que não havíamos pensado em nada. Ele então me contou que estaria participando de um congresso em Londres e que poderia tirar a semana seguinte de folga em Paris. Ele sugeriu que eu, meu marido e minha mãe fôssemos encontrá-lo lá. Imediatamente me animei, mas primeiro deveria consultar minha poupança destinada às férias pra saber se a viagem era possível. Bom, eu já tinha economizado alguma coisa e a passagem poderia ser dividida em dez vezes no cartão. O Marcelo não estava trabalhando na época e, como nem sempre é possível conciliarmos nossas férias, decidimos aproveitar a oportunidade e dizer: SIM, nós vamos passar o Carnaval em Paris!!! Minha mãe é uma pessoa muito simples e caseira e, apesar de ter várias oportunidades de viajar por conta do trabalho do meu pai, ela nunca fica animada. Prefere ficar em casa cuidado de seus bichinhos, das plantas e fazendo trabalhos artesanais, como mosaico e pintura em tela (um dia escrevo um post sobre os trabalhos dela). Não conseguimos convencê-la a nos acompanhar dessa vez.
Quando começamos a organizar a viagem, descobrimos que teríamos nove dias livres (emendando o resto da semana do Carnaval) e percebemos que era tempo mais do que o suficiente pra estender nosso passeio a outras cidades européias. Fomos pesquisar preços de passagens de trem no site da EURAIL e descobrimos que existia uma infinidade de passes de trem pra todos os gostos, bolsos e objetivos. Começamos a ver preços do pacote FRA-Benelux, que além da França, incluía Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Como o tempo de viagem entre as cidades era curto (4 horas, no máximo, de Amsterdã a Paris), montamos nosso roteiro assim: Paris-Bruxelas-Brugges-Amsterdã-Paris. Compramos um pacote de 5 viagens de trem entre os países escolhidos e ainda ganhamos um desconto por viajarmos juntos em todos os trechos. Uma dica é comprar o bilhete antes aqui no Brasil mesmo. Sai muito mais barato. E se você tiver menos de 26 anos, ainda ganha um desconto muito bom. Em Paris dividimos um quarto triplo num hotel simplezinho com meu pai, mas nas outras cidades nos hospedamos em albergues. Aliás, ficamos em quartos de casal com banheiro próprio em prédios bem localizados e equipados, muito limpos, organizados e que ofereciam serviços de internet, lavanderia, sala de jogos, cozinha, bar e restaurante por um preço bem melhor do que os hotéis com o mesmo padrão de conforto. Se você torce o nariz pros albergues, minha dica é deixar o preconceito de lado e experimentar! Já me hospedei em vários albergues na vida e posso dizer que, em geral, eles têm uma ótima relação custo/benefício.
Caminhando por Paris na nossa primeira noite, passamos por um restaurante tibetano e fui logo pegando o folheto exposto na entrada pra ver os horários de funcionamento e preços e guardei o endereço pra voltarmos no dia seguinte. Enquanto não tenho a oportunidade, o dinheiro ou a companhia pra conhecer destinos mais exóticos (os meus preferidos), me contento em experimentar a culinária dos países que sonho um dia conhecer. O bom é que meu pai e o Marcelo são tão aventureiros quanto eu nessa questão e adoram provar novos pratos!
O restaurante se chamava Khatag e descobrimos que a cozinha tibetana é semelhante às cozinhas chinesa, indiana, tailandesa e nepalesa, porém menos gordurosa e menos pesada. Os pratos não são tão apimentados quanto os indianos e não giram em torno dos alimentos típicos nepaleses como a lentilha e o arroz, nem dos frutos do mar característicos da culinária tailandesa. Meu pai pediu uma sopa de legumes que vinha num recipiente de porcelana muito fofo, com direito à tampinha. Eu e Marcelo comemos vermicelli (uma espécie de macarrão bem fininho e de cor branca) com carne e molho vermelho. Acho que a comida foi a parte menos interessante da experiência. Por serem suavemente temperados, os pratos não me agradaram muito, mas o ambiente e a decoração fizeram a aventura valer a pena.
Três dias mais tarde, nos despedimos do meu pai e partimos de trem para a Bélgica. A viagem durou só duas horas. Lá provamos muitas cervejas belgas, que são consideradas as melhores do mundo, junto com as alemães, mas isso fica pra outro post. Passamos dois dias em Bruxelas e um em Brugges, cidadezinha medieval onde as casas parecem de brinquedo. Nossa última parada foi Amsterdã, onde conhecemos o restaurante indonésio Sampurna . Meu amigo Wagner morou na cidade por 3 meses e foi ele quem recomendou que experimentássemos a comida indonésia com seus pratos ultra apimentados. Sempre que visito um restaurante novo, procuro optar pelo menu degustação, onde você paga um preço fixo e prova de tudo um pouco. Foi o que fizemos no Sampurna. O restaurante, pequeno e aconchegante, fica localizado bem no meio do mercado de flores. É decorado com muitas estátuas e adereços tradicionais e tem iluminação suave e indireta. Pedimos o menu degustação (Rijsttafel) com 18 pequenos pratos típicos, que foram colocados sobre um réchaud de metal bem comprido pra manter a temperatura da comida. Foi uma refeição bem gostosa e generosa, e apesar de termos consumido umas 8 garrafas de água por conta da quantidade de pimenta, adoramos! Procurei no site a descrição dos pratos que degustamos, mas, infelizmente, só consegui encontrar o menu no original: witte rijst, acar ketimun, serundeng, sambal goreng tempeh, ruyak manis, krupuk udang, gado gado, sayur lodeh, daging smoor, ayam ruyak, telor bali, sate ayam. Pois é, sei lá o que significa isso tudo, mas a foto que tiramos dá pra ter uma idéia de que os ingredientes eram bem variados: comemos carne, frango, camarão, legumes, verduras, arroz, ovo e mais alguma coisa.
No último dia em Amsterdã, resolvemos seguir a indicação do jornalzinho do albergue (pois é, o albergue tinha seu próprio jornal distribuído gratuitamente aos hóspedes) e fomos almoçar no Semhar, horas antes de pegarmos o trem de volta à Paris. O informativo dizia que a comida holandesa era bem sem-graça, porém os holandeses tinham a sorte de contar com vários restaurantes de comidas típicas do mundo inteiro em Amsterdã. Fomos lá conferir e, chegando ao restaurante, percebemos decepcionados que estava fechado. Constatamos que só abriria dali a meia-hora, mas o simpático dono nos deixou entrar excepcionalmente antes da hora. Fomos logo sentando na melhor mesa e, mais uma vez, pedimos o menu degustação. O prato coletivo era composto de porções de frango, carne, legumes e um tipo de queijo que se assemelhava à ricota. Tudo muito bem condimentado e picante! Foi a melhor refeição da viagem, uma verdadeira delícia exótica servida sobre o típico pão chamado ingera (feito com um grão encontrado apenas no país africano). Os etíopes não usam talheres e partem pedaços da ingera para se servirem da comida, que na verdade, parece mais com massa de panqueca do que com pão. Desse modo, os sabores acabaram se misturando e pareceu que um complementava o outro perfeitamente. Ao lado do prato, ficava uma pequena tijela com água aromatizada para lavarmos os dedos. Pra beber, optamos pelas cervejas Mongozo nos sabores côco, banana e quinoa, que eram servidas dentro de cascas de côco. A palavra "Mongozo" significa "Saúde" na língua do povo africano Chokwe. Sem dúvida essa foi minha experiência gastronômica mais interessante até hoje. Adorei a comida, o lugar, a cerveja estranha e a simpatia do dono do restaurante, que prometeu pensar em abrir uma filial no Rio. Brincadeira dele, claro!


Mas essa não foi minha primeira experiência com a cozinha etíope, embora tenha sido a mais feliz. Quatro anos antes, fui visitar minha irmã nos Estados Unidos pela primeira vez e ela nos levou a um restaurante etíope no bairro de Adams Morgan, em Washington D C, o Fasika's. Chegamos lá, sentamos em bancos feitos de palha colorida trançada e pedimos o menu degustação não-vegetariano: Yesega Alicha, Gomen Be Sega, Doro Wat e Bosena shiro. Tudo acompanhado de ingera, claro. O menu foi colocado dentro de um balaio feito de palha com uma tampa que parecia um chapéu pontudo. Muito exótico!

E você? Qual foi o prato mais exótico que já comeu? Qual foi sua experiência gastronômica mais interessante? Conta pra mim!!!!
Antes de me despedir, deixo uma receita de frango etíope (Doro Wat), que capturei da Internet, com os devidos créditos.

Frango
- 1 1/2 kg de frango em pedaços (peito,
coxa, sobrecoxa) em 6 a 8 partes
- 1/3 xícara (chá) de manteiga
- 1 dente alho amassado
- 1 colher (chá) de bérbere
- 3 colheres (chá) de massa de tomate ou caldo de galinha
- 1/2 colher (chá) de pimenta em grão moída
- 1/2 xícara (chá) caldo de galinha
- 3 cebolas grandes picadas
- 1 ovo duro por pessoa
- 1 receita de bérbere
- 3 colheres (sopa) de pasta de amendoim (se quiser)
Bérbere
- 2 colheres (chá) semente de cominho
- 4 cravos
- 3/4 colheres (chá) de sementes de cardamomo
- 1/2 colher (chá) de pimenta preta em grão
- 1/4 colher (chá) pimenta da Jamaica em grão
- 1 colher (sopa) de semente de feno grego
- 1/2 colher (chá) de semente de coentro
- 8 chilis pequenos ou pimenta malagueta
- 1/2 colher (chá) de gengibre fresco ralado
- 1 colher (chá) de gengibre seco em pó
- 1/4 colher (chá) de turmeric (aqui chama açafrão nacional)
- 1 colher (chá) de sal
- 2 1/2 colheres (sopa) de páprica doce
- 1/8 colher (chá) de canela
- 1/8 colher (chá) de cravo moído
Modo de Preparo
Para o Frango: tire a pele do frango e dê uns talhos para que o molho penetre. Derreta a manteiga em uma panela grande e doure a cebola e o alho por 5 minutos (ou até estar transparente). Junte 1 colher de (sopa) de bérbere e em seguida a massa de tomate. Cozinhe em fogo bem baixo por 15 minutos. Coloque o frango, 1 pedaço de cada vez, e mexa para que fique todo coberto com o molho. Cozinhe em fogo bem baixo por 20 minutos. Misture um pouco do líquido da panela com a pasta de amendoim para dissolver e volte tudo à panela, mexendo, de vez em quando, até star cozido. Cozinhe os ovos. Arrume em um prato de servir e salpique ovo amassado. Junte caldo de galinha se começar a secar e o frango não estiver cozido junto com 2 colheres (chá) de bérbere uns 5 minutos antes de servir. Também gosto de refogar 1 colher (chá) de gengibre fresco com as cebolas e o alho. Para o Bérbere: uma mistura de temperos que dão um sabor exótico ao prato: coloque todos os ingredientes do tempero numa frigideira e leve ao fogo baixo, por 2 minutos (cominho, cravos, cardamomo, pimenta em grão, pimenta Jamaica, feno-grego e coentro) misturando constantemente. Tire os cabinhos do chilli ou pimenta malagueta, coloque em um moedor de café juntamente com os temperos acima e pulverize ou use um pilãozinho para amassar. Junte os demais ingredientes e misture. Guarde em vidro bem fechado ou plástico.