A convidada de hoje me fez pensar nos motivos pelos quais recebi tão poucos convidados que escreveram crônicas. Eu adoro ler textos bem escritos que me fazem refletir e rever alguns conceitos, mas acho que como trato mais de assuntos relacionados à design em geral, acabo convidando pessoas que exercem alguma atividade dentro dessa área. Sendo assim, fico feliz que a Tati Pastorello esteja aqui hoje para nos presentear com um texto muito gostoso de ler e que trata de um tema com o qual me identifico muito atualmente. Vamos conhecê-la?
Olá! Hoje sou visita na casa de uma das pessoas que mais admiro como anfitriã, me sinto privilegiada. Desde o dia em que conheci a Bonfa venho acompanhando seu blog e suspiro ao ver a organização de suas festas. Ela pensa em tudo, nos mínimos detalhes! Eu adoro receber amigos, só que sou mais displicente, aqui estou aprendendo muitas coisas que quero aplicar em meus próximos eventos. Minha arte não é o design, mas a escrita. E preciso confessar uma coisa, que não deve ser repetida por aí... sabe, eu me convidei para a casa da Bonfa. Numa conversa, pedi que ela me recebesse em seu blog. E quem nunca desejou estar neste cantinho lindo, caprichado e cheio de delícias que atire o primeiro canapé!
Eu tinha certeza que ela não me aceitaria. Na verdade, assim que enviei o e-mail me arrependi da tremenda gafe! Como assim? Se convidar para a casa dos outros? A Bonfa, com a cordialidade que lhe é peculiar não apenas aceitou meu convite como me fez sentir à vontade. Nas conversas que se seguiram, decidimos pela postagem de um texto que escrevi em profunda reflexão e que agradou aos amigos do meu blog, inclusive à própria Bonfa, que se identificou com algumas passagens. Agora chega de tanto papo que o assunto é o silêncio. Ou melhor:
O amor ao silêncio
No centro espírita onde trabalhávamos havia uma frase em um mural: "Se suas palavras não forem mais bonitas que o silêncio, prefira o silêncio". Achava-a maravilhosa. E olha que sou uma tagarela! Mas sou uma tagarela em reabilitação, tentando silenciar não apenas a boca, principalmente a mente.
Certo domingo fiquei em casa por que acordei com enxaqueca (aliás, estava em crise desde sexta-feira). Marido e filhote foram curtir o dia na casa da sogra e eu fiquei. Não pense que me dei bem, longe disso! Adoro a casa da minha sogra. Ela nos recebe muito bem, é muito carinhosa, e como a família é grande, a reunião de cunhados e sobrinhos é sempre uma festa. Hoje perdi de curtir um momento gostoso em família.
Fiquei em busca de silêncio e tranquilidade, porém em pleno domingo algum vizinho sentiu-se no direito de escolher a trilha sonora do quarteirão. Então, com o pouco de capacidade que resta a alguém com dor de cabeça e no meio de uma boate arbitrária, fiquei pensando no medo que as pessoas tem do silêncio.
Por que temos tanto medo de silenciar? Por que, quando estamos entre amigos, há a necessidade de emitirmos palavras o tempo inteiro? Com quantos amigos somos capazes de nos sentar em silêncio e ainda assim estar em sintonia?
Se estamos em casa sozinhos ligamos a TV ou o rádio, nem que seja apenas para "fazer barulho". O silêncio está relacionado à solidão? Sei que não existe solidão maior do que aquela que sentimos em meio à multidão.
Será que o medo maior é da nossa consciência? Não aquela consciência clássica, juíza do certo e errado, e sim a consciência pura e simples: nossa capacidade de estar consciente da realidade. É este o momento em que as grandes questões nos invadem? As temíveis questões: "O que você está fazendo da sua vida?" "Você é feliz?" "Por que está aqui?" "Qual seu compromisso com a vida?", “Qual sua missão, meta, objetivo, destino, (...)”?
Estar em silêncio nos permite um íntimo contato com quem somos de verdade. E isso é assustador! Neste estado somos capazes de enxergar aquilo que ocultamos de diversas formas. Temos medo do ruim em nós, de enfrentar nossas falhas. Com isso perdemos de nos conhecer um pouco mais.
Vivi momentos inesquecíveis, sem que uma única palavra fosse emitida. Para certos momentos, qualquer palavra é menor. Não há palavras capazes de traduzir determinadas emoções e situações. Um abraço, um encostar nos ombros. Olhos nos olhos sob as estrelas... Que palavra pode ser dita?
Eu também tenho medo do meu silêncio, e de qualquer silêncio. Amo momentos assim, mas ligo, no mínimo, o computador. Preciso de companhia. Neste período que tenho trabalhado muito de casa e passo o dia inteirinho sozinha... Tem horas que dá angústia. Achava que adoraria esta situação. Sempre quis um pouco mais de solidão. Adoro estar comigo mesma, porém nesta fase estou assim por longo tempo, e sinto falta do compartilhar. Os dias ficam longos demais. Não há interação, troca. A energia fica estagnada, e água parada, apodrece.
Sem silêncio e solidão a escrita não acontece (pelo menos para mim). Só que solidão intensa começa a me deprimir em algum ponto. Eu vou fechando a concha de tal forma que chega uma hora, mesmo que eu queira, não consigo abrir. Acho que é o que está acontecendo agora. Tenho ficado só, comigo mesma, longas jornadas. Gosto da minha companhia. Sinto falta dos demais, do convívio, e quando tenho a oportunidade... esqueci como interagir. Fico quieta, distante. Não gosto quando estou assim. E sei que é hora de retornar à superfície.
Este é um momento em que, apesar do muito a dizer, trago conchas cerradas. O esforço para abri-la é intenso, não só por que eu acho que preciso, por que quero! Quero estar com as pessoas, participar do mundo. Solidão e silêncio são bons, desde que voluntários. Neste momento já não é assim para mim. Nestas horas penso em Cecília Meireles, não me comparando à sua escrita, entendam bem, e sim à sua solidão profunda. Sei que não quero chegar tão longe. Os textos podem ser ótimos e inspiradores, podem traduzir nossa alma, ainda assim, este mergulho em apnéia é doloroso demais. Acho que não estou disposta a arriscar. Tenho muito a perder!
Bonfa querida, obrigada pelo carinho e pela hospitalidade. Este é um sonho realizado! Um beijo a todos,
Tati
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Tati, que engraçado ler sua “confissão” sobre ter se convidado a participar dessa seção! É verdade que normalmente sou eu quem convida as pessoas que deixam suas pegadas aqui, mas você sabe o quanto eu gosto dos seus textos e da sua maneira de ver a vida. Quando você me deu a oportunidade de escolher sobre o que escreveria, lembrei logo desse texto com o qual me identifiquei em vários aspectos. Deixei até um comentário no seu blog, lembra?
Um dia escrevi no Orkut a frase que você mencionou como uma forma de desabafo: "Se suas palavras não forem mais bonitas que o silêncio, prefira o silêncio". Não tendo coragem de dizer a pessoa em questão que eu me sentia incomodada com tanta falação sem objetivo, tomei essa atitude como uma válvula de escape. Só sei desempenhar determinadas tarefas quando estou concentrada e para isso, é necessário silêncio. Não consigo, por exemplo, responder um e-mail quando alguém está puxando conversa comigo ou falar ao telefone e trabalhar ao mesmo tempo.
Também estou trabalhando sozinha em casa há mais ou menos quatro meses e tem dias em que sinto uma falta enorme de ter alguém ao meu lado com quem possa trocar ideias. Por isso minha conta de telefone tem vindo altíssima nesses últimos tempos!!!! Ligo pra alguns amigos com quem gosto de conversar e passo horas trocando figurinhas, pedindo sugestões e, até mesmo, desabafando. Sendo assim, continuo esperando ansiosamente as sextas-feiras da mesma maneira que fazia quando trabalhava fora de casa. As sextas-feiras, assim como os finais de semana, me trazem a oportunidade de estar na companhia de parentes e amigos queridos, além da perspectiva de passeios, festas, viagens e fuga da rotina.
Tati, muito obrigada pela participação no Bonfa Convida e, já que você se convidou da primeira vez, agora sou eu que te convido oficialmente a voltar aqui e nos presentear com outras belas crônicas!!!!!!
Para conhecer melhor a Tati e seus textos, basta visitá-la no
Um grande beijo a todos com votos de um final de semana bem divertido!!!!