quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Sempre existem soluções simples para problemas complexos

“Todo final de ano meu pai elabora um texto no qual reflete sobre os 365 dias que se passaram e a influência que os acontecimentos recentes tiveram em sua forma de pensar e ver o mundo. Sou filha coruja assumidíssima, mas a verdade é que meu pai é um dos homens mais inteligentes e cultos que conheço e criou suas três filhas enfatizando a importância dos estudos, da educação e do pensamento crítico. Eu o agradeço muito por isso! Recebemos dos meus pais lições de vida que não tem preço. Sabemos que o que conta mesmo é a forma como agimos na prática, é a maneira como tratamos nossos semelhantes no dia a dia. É assim que revelamos quem somos”.

O texto acima foi copiado de um post que publiquei no início de 2013 com a mensagem de fim de ano do meu pai. Hoje tenho o prazer de recebê-lo novamente nesse cantinho para compartilhar com vocês seus pensamentos para 2014.

Seja bem-vindo mais uma vez, “Beto”!

 

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Caros amigos,

Mais uma vez ao se aproximarem os festejos de natal e ano novo, como faço há dez anos, eu gostaria de compartilhar algumas reflexões a partir de meu aprendizado adquirido em mais esse ano de caminhada.

Continuei nesse ano a buscar leituras que me ampliassem o conhecimento do funcionamento da mente humana, para entender melhor os comportamentos e atitudes de pessoas e organizações.

A partir de um livro de um médico estudioso dos princípios orientais do budismo e da Yoga que minha filha Flávia me presenteou (Buddha´s Brain, de Rick Hansen), pude fazer um interessante link entre o que já tinha aprendido com estudiosos ocidentais sobre os mecanismos de funcionamento do cérebro (Damasio, Ariely, Kahneman) com os milenares conhecimentos orientais sobre o funcionamento do nosso corpo e mente, e seu reflexo no processo decisório de pessoas e organizações.

Gostei tanto dos princípios que comecei a praticar yoga e as técnicas de respiração e meditação com reflexos bastante positivos para minha saúde física e mental. Passei nas outras leituras usar esses princípios de funcionamento da mente humana na interpretação dos textos.

Uma das últimas leituras do ano foi o livro de Cristiane Correia “Sonho Grande”, no qual ela relata a história de sucesso de três empresários brasileiros que fizeram o que parecia impossível para um grupo que se iniciou no mercado financeiro sem nenhum conhecimento específico sobre a indústria cervejeira, ou seja, controlarem a maior empresa do ramo em termos globais, a InBev, uma fusão das antigas Brahma, Antártica, a argentina Quilmes, a belga Interbrew e a americana Anheuser-Busch (Budweiser).

Lendo o conjunto de valores que esse grupo de empresários introduziu em todas as empresas que controlaram, pude destacar alguns que tem muito a ver com o tema da minha reflexão desse ano. A base do modelo de gestão do grupo é gente competente, treinamento, remuneração adequada, controle de custos e simplicidade. Porém, eu creio que o fator diferencial principal foi justamente a simplicidade.  “O simples é sempre melhor do que o complicado”, princípio que já aparece nessa frase do ainda jovem estudante de Harvard Jorge Paulo Lemann, que depois seria o líder desse grupo de empresários, e em outra frase já mais adiante  em sua carreira: “A verdadeira genialidade não é tornar uma ideia complexa, mas o contrário: transformar um mundo complexo em uma ideia bem simples”.

Esse princípio teve nas organizações que comandou um poder multiplicador enorme, moldando outros valores como: “As inovações que criam valor são úteis, mas copiar o que funciona é bem mais prático”. “O bom senso vale mais do que ideias complexas e sofisticadas”. “A principal função dos chefes é escolher pessoas melhores do que eles para a organização”.

Porque um princípio tão óbvio, a simplicidade, e tão difundido por várias filosofias, orientais e ocidentais torna-se um fator diferencial? A questão tem a ver com o mecanismo de funcionamento de nosso cérebro, que tende a rejeitar ideias simples como solução para problemas sejam eles simples ou complexos, e se o problema é simples, o nosso modo de pensar introduz restrições que não estavam no enunciado para torna-lo mais complexo, e aí então é que as soluções simples serão rejeitadas.

Vejam por exemplo o poder de soluções simples para resolver problemas complexos. O princípio da não violência de Ghandi conseguiu  libertar a  Índia do domínio da então toda poderosa Inglaterra. As ideias simples de Jesus subjugaram a filosofia helenista do império romano e ainda reverberam até hoje, tendo sido fonte de inspiração para as grandes mudanças sociais das revoluções francesa e americana.

As grandes inovações criadoras de valor partem sempre de princípios simples. Existe algo mais simples do que a invenção da roda, importante até hoje para a mobilidade humana?

E o que dizer do princípio que permitiu toda a revolução dos computadores, a linguagem binária com somente dois dígitos elementares, (0 e 1), (presença ou ausência), (luz ou sombra), (faz sentido, não faz sentido).

Principalmente nós latinos ao invés de raciocinar binariamente diante de uma decisão a ser tomada: (faz sentido, ou não faz sentido), preferimos raciocinar de forma mais complexa (faz sentido, faz um pouco mais de sentido, dependendo de tal circunstância faz bem mais sentido, se tal condição estiver presente faz muito mais sentido, e etc...) tornando o processo decisório muito mais lento e ineficaz.

Convidando-os a colocar mais simplicidade nos seus processos decisórios e na maneira de desfrutar desse milagre que é a vida para que se revele a felicidade que está dentro de todos nós e cuja revelação só depende de nós, desejo que todos vocês tenham um Natal com muita paz e alegria e um novo ano pleno de felizes realizações, todas “simples e eficazes”.

Deixo um exercício para vcs tirarem suas conclusões:

Procurem completar essa lista de animais quadrúpedes cujo nome termine em “ Í “.

JABOTI

SAGUI

JAVALI

QUATI

OKAPI

Procurem em 20 segundos completar a lista com mais um animal. Só desçam a página após esses 20 segundos.

BOI

Você aceitou ou rejeitou essa solução simples de um animal tão conhecido? Se rejeitou ou não veio à sua memória, analise o porquê, e veja se a causa não foi o tema de minha mensagem…

Públio Roberto Bonfadini

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Adoro os textos do meu pai porque, além de serem refexões úteis sobre temas cotidianos, vocês podem observar que há um embasamento sólido em tudo o que ele relata. Meu pai lê muito e está sempre estudando. É um cara de 66 anos que eu duvido que se aposente algum dia. Ele ama o trabalho e possui uma energia produtiva invejável!

O que eu achei mais interessante nesse texto foi a questão da simplicidade. Como designer, percebi há muito tempo que as ideias aparentemente simples são as mais geniais. Isso acontece na minha área de trabalho e em todas as outras. Perdi as contas de quantas vezes eu disse pra mim mesma: “Que demais, que ideia sensacional e, ao mesmo tempo, tão acessível… como é que eu não pensei nisso antes?”.

Concordo plenamente que o ser humano tem a tendência de complicar as coisas. Muitas vezes a melhor solução para um problema é a mais óbvia, a mais palpável e que está logo ali ao nosso alcance. Mas a mente gosta de divagar, de buscar formas complexas de lidar com as adversidades ou novidades, o que diversas vezes gera mais sofrimento e gasto de energia.

Vou tentar aplicar esse aprendizado na minha rotina em 2014 e, apesar de estar sempre dizendo (e escrevendo aqui no blog) que pretendo desacelerar, até hoje nunca consegui. Não vou prometer nada, mas espero que eu consiga me tornar uma pessoa mais “zen” esse ano. A viagem aos Estados Unidos em dezembro e a convivência com minha irmã do meio, que é budista, me fez rever alguns aspectos da minha vida e sentir uma imensa vontade de mudar, de procurar uma nova forma de vivenciar experiências e de valorizar na prática o que realmente importa, me preocupando menos com o que não vale a pena.

Um grande beijo pra todos com votos de um final de semana de boas reflexões!

Bonfa-ass